terça-feira, 5 de julho de 2011

Felicidade, foste embora?

Quando sentamos em frente à TV, não pensamos em mais nada e é incrível a capacidade que este aparelho tem de nos prender a atenção e nos deixar calados, mesmo com seus amigos na mesa. todos se calam e todos prestam atenção à notícia ou à publicidade. Penso, então, que estas duas palavras no mundo atual se confundem. Não há melhor publicidade que uma notícia. Publicidade do caos, da dor, da tristeza, da alegria e/ou da tão sonhada qualidade de vida.

Felicidade. É essa a palavra que sempre é buscada e parece existe uma espécie de Eldorado da Felicidade, em que as pessoas viverão sempre sorrindo, alegres, saltitantes e serelepes. Um lugar em que não haverá dor, discórdia e que estará a dois passos de tudo. Ora, isso é felicidade.

Ideiais de vida que são colocados como o grande motivo da existência. É que ter um carro e a casa em determinado bairro é a onda do momento, é ser visto. Somos apenas quando temos e se não temos não somos. Os verbos também se confundem, assim como lá se confundem notícia e publicidade, aqui também se confundem ser e ter.

São verbos que em nada tem de essência similar, em nada se misturam e dificilmente você aprende Ter antes de Ser. Somos, porém somos tendo. Somos pessoas que exigem o ter, que exigem, na pior das hipóteses, a sensação de ter. É o fetiche que dá água na boca e o fetiche e que basta que olhemos e praticamente nos masturbemos olhando aquele aparelho de última geração, que custa um valor que talvez você não consiga nem com um ano de trabalho. Olhamos no site, observamos, podemos experimentar virtualmente e eis que PIMBA! e lá está o plástico mágico que vai nos inserir nesta sociedade líquida. Líquida (conforme Zigmunt Bauman) porque é facilmente maleável e se adapta ao "recipiente", ou seja, ao mundo capitalista.

Sair deste recipiente é uma afronta para os mais líquidos. Não aceitar viver em um mundo líquido, lutar por um mundo sólido e menos maleável é motivo ou de riso (já que isto nunca vai mudar) ou de ódio (porque é inaceitável que se retire o fetiche do dinheiro). Não é possível para o mundo líquido que vivemos que esta água congele, se torne de difícil quebranto e venha a se tornar algo consistente e resistente. Resistência esta que está, apesar de tudo, sendo consolidada em mentes jovens que nos mostram que o mundo pode não ter conserto, mas tem manutenção.

Quando falamos em felicidade parece que é a tristeza a entrar na discussão.

Odair José canta que "felicidade não existe, o que existe são momentos felizes". Pode até parecer ingênuo o que o cantor afirma, mas que outra alternativa nos resta se não concordar? O que não ocorre na sociedade, então? Não é de viver de momentos felizes que o humano moderno se diz feliz? Ora, é para isso que precisa viver a dois passos de tudo, é para isso que precisa trocar de carro todo ano, é por isso que sempre precisamos estar de acordo com as tendências. Até porque se você não estiver na moda, usando xadrez ou andando no carro do ano, você não É, pelo simples fato de não TER.

Sabe qual é a sacada? T(S)ER! Uma letra muda, tudo muda.

E aqui não vai importar quem é quem no jogo. Todos, independente de quem sejam, precisam ter. Assim, a economia se forma dentro do jogo das posses e propriedades. Só se é quando se tem. Mesmo que não se tenha, lá está o verbinho TER saltitanto e rindo das nossas caras. Quando temos, nós somos. INFELIZES, é o que somos quando temos (pouco).

Temos muito e não temos acesso a nada e é por isso nossas caras carrancudas, nossas expressões de inveja de quem mora na "bem" ou de quem tem "aquele" carro, ele é TOP. Como então conceber que pessoas que não tem consigam viver sorrindo? Como conceber que a felicidade chegue em um ponto onde é impossível ter?

A sociedade moderna e capitalista impõe todas as felicidades, todas as formas necessárias à uma vida feliz, e rechaça toda e qualquer forma de felicidade que não se adeque às molduras burguesas (piegas, porém verdadeiro).

Na ordem alfabética o "T" de Ter, vem logo após o "S" de Ser. Na ordem da vida, as posições estão trocadas.

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