terça-feira, 5 de julho de 2011


“Desejo uma fotografia
Como esta – o senhor vê: - como esta: [...]
Não... neste espaço que ainda resta
Ponha uma cadeira vazia”

Cecília Meireles: “Encomenda”

Passos agressivos me acompanham, enquanto tropeço nas saias, esperando ver... Um aceno! Do alto do prédio; da mesa de bar; dessas madrugadas todas que aos poucos vão morrendo, se borrando, de azul e laranja: uma poltrona acolhe com um bolo do sul e ninguém entende, ninguém se entende, mas tenta se fazer entender; através do passo, da cena, da escolha, do recorte, do prosseguimento das ideias que não desaguam nunca num lugar comum, que não seja, ao mesmo tempo, contraposto e contraditório: alguém retruca e o outro responde; ele transcende e ela sorri, estridentemente, ao tempo em que a grama molhada umedece a pele dos calcanhares e dos cotovelos, enquanto um abraço acolhe o anseio de mutação concreta da ordem das coisas; um homem de três cabeças simboliza, (in)coerentemente, um fato; um “rostos” no retrato representa um querer. Um querer que se executa num querer estar junto, num querer estar perto, com músicas que acompanham o pensamento de se fazer chegar logo ou de não se fazer chegar nunca, para que o sentimento de separação não desloque a pretensão de aconchego. Uma frase aparentemente sem sentido é acidentalmente pronunciada, todos se calam e todos sorriem e... Um banho noturno! Uma dança! Um tambor! Uma onça vermelha que cospe fogo na cabeça careca de Kant, na disposição descompassa dos momentos que não mais se distinguem entre luta e prazer: o que antes separava um conjunto de cobiças coesas de emoções desconexas, agora atrela tudo numa coisa só: a vontade de mudar junto,

em qualquer lugar.

Um comentário:

ERIKA DMITRUK disse...

Tua sensibilidade é maravilhosa! Tuas palavras trazem sentimentos vivos na lembrança e no corpo. Coisas que não passarão nunca! Dias que não deixaremos, nem esqueceremos jamais!