quinta-feira, 7 de julho de 2011

I Festival de Curtas Lutas: São Luís

Aconteceu nos dias 05 e 06 de julho o I Festival de Curtas do Lutas: São Luís. A proposta do pequeno festival foi o encontro dos participantes para assistir alguns curtas e comentar as relações sociais a partir das películas mostradas.

Foram ao todo quatro curtas de diretores consagrados pela visão subversiva da sociedade e do próprio cinema e que utilizam a sétima arte para difundir ideias que nos remetem a reflexões sobre a condição humana dentro do seio social.

Para esta primeira confraternização, foi utilizado a fita RoGoPaG - Relações Humanas, que traz quatro pequenos filmes dos diretores Roberto Rossellini (Ro), Jean-Luc Godard (Go), Pier-Paolo Pasolini(Pa) e Ugo Gregoretti (G). As quatro histórias parecem não ter conexão nenhuma, mas de uma forma ou de outra acabam caindo na discussão sobre os ideiais impostos à nossa sociedade ocidental.

No dia 05 de julho, foram vistos três curtas e que eram discutidos assim que o vídeo se encerrava.

O primeiro foi Pureza, de Roberto Rossellini, que mostra os conflitos de uma jovem aeromoçaque tem um namorado e que é constantemente assediada pelo assédio de um executivo americano. A discussão tomou o rumo das questões de gênero e das formas de não perceber o outro, uma vez que toda a fita se passa em uma Índia assolada pela pobreza e pela falta de desenvolvimento, como diz a personagem do executivo.

Em seguida foi passado o filme O Mundo Novo, de Jean-Luc Godard, que retrata um "ex-amor" com retoques futuristas em que o início e o que se identifica como fim do relacionamento de um casal coincide com uma espécie de Holocausto nuclear. Nesse ponto a discussão tomou vertentes de assimilação de mudança e resignificação de valores na sociedade. Sociedade esta que vive em constante mudança descontínua, mas que nós mesmos não pretendemos fazer parte desse processo, para não sairmos da zona de conforto.

O último filme da primeira noite foi O Frango Caseiro, de Ugo Gregoretti, que retrata com maestria singela e bem didática a influência dos anúncios publicitários em uma família, partindo para o campo, para comprar sua nova casa. Aqui, a discussão não poderia ter sido outra senão o consumismo desenfreado, o simbolismo do frango de granja (nós) contra o frango caseiro (caipira, aquele frango que é desprendido dos grilhões da granja e vive como quer). Também se discutiu o ideial de felicidade por meio do consumo, espécie de vivência que hoje parece ser considerada a forma ideal de vida, uma forma de vida em que o Ter pressupõe o Ser.

À noite de 06 de julho ficou reservada a exibição do filme de maior duração A Ricota, de Pier-Paolo Pasolini, com o grande Orsen Welles e que conta a história de um diretor que realiza, na periferia de Roma, um filme baseado na Paixão de Cristo, com um enfoque não na figura de Cristo, mas do Bom Ladrão. Após o filme, os pontos em questionamento foram sobre as formas de ação e políticas públicas contra a pobreza e da ajuda opressiva e falsa ao oprimido (bem na ideia Paulofreiriana), reconhecemos nossos pecados ao tentar "sermos bons" e acabar por impondo nossos ideais de bondade, solidariedade e perspectivas.

O Festival, no entanto, não celebrou apenas a sétima arte. A poesia e a música também foram contempladas neste encontro. Na segunda noite, cada um dos lutantes trouxe um poema, uma música, enfim, algo da Arte para fazer contrapontos com os filmes assistidos e discutir todas as formas de expressão para expor suas frustrações pessoais e também para discutir a nossa sociedade.

Os dois dias de encontro serviram bastante para colocar em pauta nossas posições e aceitar que todos fazemos parte do mesmo sistema e que também acabamos por contribuir para a sua manutenção. No mais, ficou a sensação de que o caminho a ser trilhado ainda está apenas no início, e que tudo é muito distante. E que buscar esta forma de liberdade é muito difícil, porém bastante recompensadora.

Um comentário:

ERIKA DMITRUK disse...

Esse primeiro festival de curtas foi muito importante, e por vários motivos. Primeiro, nos enriquecemos muito culturalmente - todos esses diretores fantásticos possuem uma linguagem muito peculiar, um discurso permeado ideologicamente por autores que amamos, e uma visão da sociedade que apenas nos engrandece. Mais do que isso, a partir dos filmes apuramos um pouco mais nossa visão sobre a modernidade, o desenvolvimento e o capitalismo, auxiliando nossas reflexões sobre a realidade na qual queremos intervir. Também foi importante pela confraternização, e análise coletiva...como é bom estar junto (eu não canso de repetir). E mais ainda, quantas idéias, quantas imagens ficaram na cabeça, servindo de combustível para os curtas e documentários que produziremos. Que venha logo o segundo!!!!!!!