quinta-feira, 21 de julho de 2011

Mostra Maranhão Quilombola - Le bonheur est là-bas, en face

Ontem, 20 de julho de 2011, começou o evento "MARANHÃO QUILOMBOLA - OLHARES DO CINEMA NA DÉCADA DE 1970", na qual remete-se ao cinema francomaranhense da década de 70, no intuito de perceber as comunidades quilombolas e suas primeiras experiências junto à civilidade da capital do Maranhão. O filme apresentado ontem foi Le bonheur est là-bas, en face (A felicidade está lá na frente), do diretor francês Jean-Pierre Beaurenaut. O filme retrata a comunidade Ariquipá, na cidade de Bequimão, de como se dá a sua migração para São Luís, a partir do que se convencionou chamar dentro da sociedade capitalista de "falta de oportunidades".

Falta de oportunidades estas que se revelam como uma forma de demérito da forma "primitiva" de trabalhar em que estas comunidades se encontram. É feita uma referência às ondas do rádio como sendo o anunciador das boas novas da tecnologia e da prosperidade da capital.

O pequeno documentário, no entanto, não se limita a mostrar o camunidade em si, focando também outros aspectos que merecem destaque quando tratamos de conflitos. É que busca este documentário, explorar a comunidade em suas diversas facetas, inclusive fazendo clarear em nossa vista que uma comunidade não se deduz apenas dentro de certos aspectos, mas de diversos outros que lhe compõem. Desta forma, a comunidade quilombola, também é, ao mesmo tempo, uma comunidade de quebradeiras de coco e uma comunidade pobre na "cidade grande".

Assim, os habitantes do Ariquipá, atravessam a baía e vem descer em terrras ludovicenses, para se submeter aos empregos em que a mão de obra braçal é mais utilizada. Aí, não lhes resta outra alternativa a não ser se alojar em bairros de periferia, já chamados à época de favelas como era conhecida o bairro da Liberdade (nas entrâncias do Monte Castelo). Carregadores, pedreiros, empregadas domésticas, prostitutas, entre outros afazeres ditos "menores", são destinados a estas pessoas que chegam à capital em busca da "felicidade", esta palavra que nunca é alcançada de forma plena neste mundo moderno. Uma palavra que sempre, como diz o filme, está adiante, lá na frente.

É nessa frase que se desdobra o filme, a busca por "algo melhor" se desfaz sempre nas pequenas casas de taipa ou de alvenaria quente, sobre os trilhos do trem que leva a caminhos estranhos ou na frente da TV que exige o movimento perspicaz instaurado em uma época de repressão militar e naturalidades capitalistas que fazem o discurso do "é porque Deus quer" propagar em todas as falas.

A película ainda mostra uma São Luís, em decadência setentista com uma explosão demográfica que fez a população crescer quase mais de 250%, alargando ainda mais todas as diferenças sociais. Para quem viveu a época, logo após a exibição do filme, restaram olhos marejados e comentários de "era assim mesmo" e "eu andava ali e vi isso" foram lugar comum no bate papo que se seguiu, com o diretor e parceiro de Jean-Pierre, Murilo Santos (que hoje, 21/07, exibe o seu próprio filme, A Festa de Santa Teresa, na qual pode-se ver a primeira radiola de reggae, a "Sonzão Carne Seca").

O locutor do filme se limita a descrever as condições e as manifestações, sem tom crítico, algo dispensável frente às imagens. Estamos em 1973 e a data e o filme mostram o que o percurso das formações das sociedades é não-histórico e descontínuo. Faz com que pensemos em atualidades, pensando sempre nas estruturas edilícias mudadas, porém com as mesmas diferenças, preconceitos e indeferenças do sistema.

A vida em 1973, sob a égide de um sistema militar de governo, no entanto, não tira o sorriso dos rostos sofridos, que trabalham um dia inteiro para ter ao fim da jornada o direito a tomar três cervejas no bar, conversar com os amigos e planejar o dia seguinte. No final, é sempre a busca pela felicidade que enseja toda uma teia de incertezas na vida, distanciamento das relações e autoimposição de rotinas.

Como diz Belchior, quem me vê falando assim, pensa que esse desespero todo tomou conta em 1973 (ano de produção do filme) e parece que tomou conta mesmo.

Um comentário:

erika dmitruk disse...

Obrigada pelo texto João, não pude assistir o documentário com vocês mas vou procurá-lo!