terça-feira, 28 de junho de 2011

NOTA DE REPÚDIO

MOVIMENTO QUILOMBOLA DA BAIXADA OCIDENTAL MARANHENSE
NOTA DE REPÚDIO
O Movimento Quilombola da Baixada Ocidental Maranhense (MOQUIBOM) vem a público manifestar seu repúdio, diante de várias notícias publicadas em veículos controlados pela senhora Roseana Sarney Murad, sobre a recente vinda, ao Maranhão, das Ministras de Estado Maria do Rosário (Direitos Humanos), Luiza Bairros (Igualdade Racial), Márcia Quadrado (Desenvolvimento Agrário, em exercício), do presidente nacional do Incra, Celso Lisboa de Lacerda e do presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira de Araújo.
Após décadas de grilagem, pistolagem, assassinatos, torturas e todo tipo de violência contra os camponeses do Maranhão, causa indignação ver a senhora Roseana Sarney noticiar, orgulhosa, que teria dado “uma bronca” neste grupo de autoridades federais, que vieram para cá ouvir nossas legitimas e históricas reivindicações. A suposta grosseria virou notícia e, segundo essas mesmas notícias, o problema teria sido a quebra do protocolo. Às favas com o protocolo! Nós não estamos nem um pouco preocupados com isso. No Maranhão, diante de tanto sangue derramado de nossos irmãos e irmãs, da impunidade que favorece assassinos de camponeses, da corrupção evidente, da completa degeneração do poder público e do avanço avassalador da grilagem, nós não temos nenhum compromisso com protocolos palacianos.
Por razões bem diferentes, o povo maranhense também grita!
A senhora Roseana, se gritou, foi porque certamente queria um espetáculo de mentiras, com fotos e imagens de TV e ela no papel de benfeitora, com todos os outros atores políticos (inclusive as vítimas do latifúndio) atuando como meros coadjuvantes. Jamais compactuaremos com isso! Nós queremos coisas bem diferentes. Nós exigimos respostas concretas do Estado brasileiro! Foi revoltante ler uma mentira publicada no jornal O Estado do Maranhão, de propriedade da senhora Roseana, no dia 21 de junho, véspera da chegada das autoridades federais. Lá estava dito, na primeira página: “Ministras vêm ao Maranhão para conhecer programas fundiários do governo”.
Quanta falta de respeito com a nossa luta! Conhecer programas do governo? Mentira! O presidente do Instituto de Terras do Maranhão, sr. Carlos Alberto Galvão, declarou que o órgão dirigido por ele não tem capacidade para atender 20% da demanda atual – arrecadação de terras públicas para assentar camponeses, titulação de – por falta de funcionários e recursos financeiros. A verdade é que as ministras vieram ao Maranhão atendendo a uma exigência nossa que, diante de inúmeras situações de opressão, acampamos em frente ao Palácio dos Leões e do Tribunal de Justiça, depois fomos para dentro do INCRA, com 21 pessoas ameaçadas de morte chegando ao extremo de fazer greve de fome. Foi essa legítima pressão social que trouxe todas essas autoridades federais ao Maranhão.
O que importa o protocolo ou a birra de quem quer que seja, diante da imensa gravidade da nossa situação, dos despejos, de lavradores assassinados, de ameaças de morte, associações queimadas, sede de organizações invadidas?
Esperamos, agora, que o governo federal não se intimide com a difícil realidade política do Maranhão, cumpra seu papel e honre os compromissos e a palavra empenhada diante de centenas de pessoas. E esperamos que o governo estadual também apresente à sociedade maranhense um Plano de Trabalho que, efetivamente tenha a capacidade de retirar 1,5 milhão de maranhenses da situação de extrema pobreza - consequência da alta concentração de terras em tão poucas mãos que expulsam e matam; e, da “apropriação por parte de pequenos grupos, mediante influências políticas e corrupção ativa, daquilo que pertence a todos. Esses pequenos grupos fazem do bem público um patrimônio pessoal” (Carta dos Bispos do Maranhão).
Queremos deixar bem claro que o nosso movimento quilombola tem a total e absoluta autonomia em relação a partidos e governos. Por isso, temos a liberdade para seguir reivindicando, cobrando, exigindo e, se preciso for, radicalizando, por aquilo que acreditamos ser o justo.
Nossa luta continuará!
São Luís – MA, 27 de junho de 2011
Pelo Movimento Quilombola da Baixada
Givanildo Nazaré Santos Reges
João da Cruz
Almirandir Madeira Costa
Catarino dos Santos Costa
Maria Teresa Bitencourt

Um comentário:

João Carlos disse...

Comentário postado no blog do Dédio Sá.

Caro Décio. Muito me admira um jornalista que se diz sério usar termos tão inapropriados para descrever a parte opositora do ponto de vista que defende. Aloprados? Por que? Pelo simples fato de estes exigirem condições dignas de vida para pessoas que não sabem se vão acordar no dia seguinte e que tem suas casas alvejadas por balas que não sabem de onde vem. Sr. Décio, seu discurso apenas mostra o conformismo dessa classe que não aceita dividir o pedaço de terra que é por direito das pessoas que lá vivem. Sendo destelhados por pessoas que, como o senhor, pensam que o progresso é algo que deve ser alcançado a todo custo, mesmo que para isso pessoas tenham suas vidas destroçadas por armas e ameaças baixas e vis. A "bronca" de Roseana, só revela que ela está pouco ligando para quem ou o que está na sua frente, o que ela quer é manter o poder dentro da mão da pequena elite que tem pessoas legitimadas a apoiar como o senhor (com um poderoso veículo de mídia) para apoiar. Aloprados? Por que querem exigir o que é de direito? Por que bradam aos ventos todos os desmandos executivos, legislativos e judiciários? Caro Décio, seja mais prudente e não tome como uma coisa boa o fato de uma "bronca" que é mais um faniquito porque as ministras não foram tomar a bênção (como muitos fazem aqui). A "bronca" só revela o fato de Roseana não saber, ou melhor, esconder, o que se passa em nosso estado. Aloprados? Por que são pessoas buscam viver? Sim, simplesmente, buscam viver. As ministras lá também em nenhum momento se propuseram a melhorar as condições daquelas pessoas , estavam lá mais para fazer valer a autenticidade da audiência, que não passou, essa sim, de um belo circo em que duas ou três palavras difíceis arrancaram aplausos de alguns presentes. A governadora se zangou e não compareceu. O vice? Esse nem de longe. As ministras foram apenas bibelôs de um discurso que está aí pronto paa ser acatado pela população que pensa às beiras de um nazismo no século XXI. Revolta, claro, porque são as pessoas lá que estão sendo ameaçadas de morte. Partidarismo é uma coisa, caro Décio, sarcasmo é outra, e deve ser usado nas situações propícias e esta não é uma delas. É um caso de vida e morte (mais de morte aqui) e que o senhor diminui como se fossem apenas pessoas que querem "tirar uma casquinha" do governo. Passar bem.