sexta-feira, 1 de julho de 2011

Encontro das quebradeiras de coco de Dom Pedro, São José dos Basílios e Governador Archer: a experiência dompedrense

No dia 25 de junho de 2011, aconteceu em Dom Pedro, MA, mais precisamente no Clube da Juventude e organizado pelo companheiro Marcos Robério dos Santos um pequeno encontro com as quebradeiras de coco babaçu das cidades de Dom Pedro, São José dos Basílios e Governador Archer. Com um aspecto mais de curso de formação do que propriamente uma reunião de troca de experiências as quebradeiras ouviram um dia de ensinamentos (por vezes irrelevantes) do mediador Padre Marco, pároco da cidade de Grajaú.

O coletivo Lutas: São Luís, teve a oportunidade de falar por quarenta minutos para expor seus objetivos e finalidades, no intuito de prestar assessoria jurídica e social para as quebradeiras presentes.


Após um delicioso almoço com galinha caipira e pirão de parida. o grupo proporcionou uma pequena dinâmica, na qual cada um dos lutantes presentes tomou para mediação cada grupo de cada cidade ali presente. Assim, Érika Dmitruk conversou com as quebradeiras de Governador Archer, Igor Plata trocou ideias com as quebradeiras de São José dos Basílios e eu, João Carlos, como filho da terra,tive o prazer de ouvir as quebradeiras de coco de Dom Pedro.

A dinâmica consistia em tomar o nome de cada comunidade, a data criação da associação (caso houvesse), quem são as lideranças e foi pedido que as quebradeiras apontassem os principais problemas que enfrentam, bem como as principas conquistas que obtiveram ao longo de sua luta.

Relato aqui a experiência que tive com as quebradeiras conterrâneas.
As comunidades de quebradeiras de coco, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não se encontram juntas e homogêneas em determinada cidade. É o exemplo de Dom Pedro, cidade na qual as comunidades se espalham por várias áreas da cidade, o que implica problemas diversos, apesar de similares.

Em Dom Pedro, são seis comunidades: Comunidade São Francisco Xavier (no bairro Alto do Pacote), Comunidade Perpétuo Socorro (no bairro Canto do Hermes), Comunidade da Cajá (no bairro Cajá), Comunidade da Vila São Pedro (na Vila São Pedro), Comunidade do Centro do Primo (no povoado de mesmo nome) e Comunidade do Centro do Estevinho (o povoado de mesmo nome).

Para se ter uma ideia da distância entre as comunidades, a comunidade São Francisco Xavier fica na entrada da cidade, já a comunidade da Vila São Pedro fica antes do Povoado Mata Velha, portão de entrada da cidade de Dom Pedro e a Comunidade do Centro do Primo já fica na saída da cidade pelo lado em que se dirge à cidade de Gonçalves Dias.

Logo, é extremamente difícil juntar todas elas em um único lugar para tratar de um assunto tão complexo como é o acesso livre aos babaçuais. Relatam as quebradeiras, que cada comunidade tem seus problemas específicos, mas que sempre encerram em um lugar comum: a falta de acesso ao extrato e corte do babaçu.

A cidade não tem uma associação formada (como a de São José dos Basílios) e as lideranças também não são reconhecidas, a não ser na pessoa de Márcia Palhano que faz parte da Comissão Pastoral da Terra. O que dificulta ainda mais a identidade e a unicidade destas mulheres, uma vez que falta dentro delas lideranças próprias.

Perguntadas sobre as dificuldades as quebradeiras afirmaram que há alguns anos havia agressão - inclusive, contaram um caso no qual uma mulher foi amarrada a uma palmeira de babaçu por entrar em uma fazenda particular para colher e quebrar o coco. Hoje, contam, não há mais violências, entretanto o acesso ainda é dificultado por outras formas de opressão, como armadilhas para animais (que acabam servindo de armadilhas humanas), animais ferozes soltos nas fazendas e capatazes que fazem segurança armada no local.

Apanhar o coco apenas se entrar escondido na fazenda, pois não há acordo nenhum com o dono do pedaço de terra. Quando há acordo, este é feito mediado por alguem que arrenda o pedaço de terra para cuidar.

O arrendamento é feito da seguinte maneira: o dono real da fazenda, sítio ou quinta, "arrenda", vende um determinado pedaço do lote para alguém e esta pessoa é que a partir de então é reconhecida como proprietário das palmeiras. Quando conseguem alguma espécie de contrato, o coco extraído e quebrado deve ser vendido para este arrendatário a um preço bem ínfimo.

Não há cursos profissionalizantes ou de formação para o beneficiamento da amêndoa o que dificulta o interesse das quebradeiras para uma luta maior pelos seus direitos. Uma das quebradeiras relatou que a Prefeitura chegou a propagandear um pequeno curso sobre artesanado e uso do coco babaçu, entretanto não houve qualquer convite às quebradeiras e o curso contava com apenas quinze vagas. Os cursos que são preparados pela CPT, alguns não obtem sucesso pelo fato de maridos não deixarem ou pelo fato da pouca expectativa de alguma conquista.

A maioria das quebradeiras vive apenas da extração e quebra do coco, mas pela dificuldade alguams dependem do marido e as que não possuem esta ajuda acabam por optar em lavar roupas ou fazer faxina nas casas da cidade. Todas as que ali estavam recebiam o Bolsa Família.
Sobre o futuro não há esperanças fortes, uma vez que as quebradeiras estão extremamente desiludidas com as ações do Poder Público local e por duas vezes já tentaram encaminhar projetos para a implantação da Lei do Babaçu Livre na cidade de Dom Pedro. Em uma das oportunidades um vereador simplesmente rasgou o projeto, ali na frente de todos. Márcia Palhano (indicada como a líder das quebradeiras) chegou a ser agredida com um tapa na cara de um assessor de um dos vereadores da cidade.

Até a própria atividade está ameaçada, uma vez que as novas gerações não tem interesse ou não são incentivadas. É preciso que as crianças estejam na escola para garantir "um futuro melhor". É que a atividade de quebra deve começar desde cedo, posto que esta é extremamente complicada e usa machado e pedaço de madeira, de uma forma bem rústica mesmo.

Sobre as conquistas, o silêncio das mulheres demonstrou tudo.

2 comentários:

Odival Quaresma disse...

João, belíssimo post confrade! Muito bem escrito e principalmente detalhado, sem cair na "secura" de uma prosa dissertativa!

Almir Escatambulo disse...

Ola boa tarde? meu nome é almir escatambulo. sou blogeiro aqui de londrina no paraná, estou acompanhando aqui o blog e a luta de vcs ai em São Luiz que é tão complicada o que precisar a gente divulga por aqui no blog. grande abraço


Almir Escatambulo
http://provincialondrina.blogspot.com/