sábado, 2 de julho de 2011

Movimento Quilombola sacode Sociedade.


Na madrugada do dia 1º de junho de 2011, um grupo quilombolas, cansados de esperar pelo Estado e o Judiciário, acamparam na Praça Dom Pedro II, e passaram a realizar uma série de protestos com o intuito de chamar a atenção da Sociedade Civil e das autoridades para a situação de conflitos pela posse de terra nas regiões interioranas do maranhão.
A situação dos camponeses no interior do Estado do Maranhão é preocupante, pois chefes de famílias estão morrendo sob o julgo de grileiros que, munidos de uma horda de capatazes, executam trabalhadores rurais que vivem há gerações nas áreas ora em conflitos. Exemplo de trabalhador assassinado por esse motivo é o de Flaviano Pinto, cuja liderança natural de um povo que ainda luta, trouxe contra si a ira dos poderosos latifundiários.
Flaviano teve sua vida ceifada em 30 de outubro de 2010, com sete tiros na cabeça. A reposta das autoridades competentes foi, quase quatro meses depois do assassinato da liderança quilombola, soltar o acusado de ser o mandante do crime, o grileiro Manoel de Jesus Martins Gomes, que não passou sequer 24 horas preso.
A soltura do grileiro é somente uma das várias situações que corroboram a certeza de que, no Maranhão, o ranço da Oligarquia Latifundiária não só vive, como se reproduz feito erva daninha. O trabalhador é privado de ter seu meio de sobrevivência garantido, independente de, no caso dos quilombolas, terem resguardadas as terras que originalmente ocupavam.
A morte matada de Flaviano no ano passado é, inevitavelmente, lembrada com a morte morrida de um outro exponencial da luta por que passam os descendentes da mão que sustentou o Brasil na sua colonização. Trata-se do professor Abdias do Nascimento que, no dia 24 de maio deste ano, morreu aos 97 anos, deixando uma herança de luta contra a tentativa do que ele chamava “genocídio”, pelo qual os descendentes de escravos no Brasil resistem bravamente.
É o contexto que se tem no Maranhão. Genocídio das comunidades tradicionais quilombolas, pois por meio do cerceamento ao direito à terra, ao plantio, à criação dos filhos conforme uma cultura há muito desprezada, com limitação de seu direito de ir e vir imposta por jagunços, com a prática nefasta de um Judiciário comprometido com os donos de terra, grileiros e politiqueiros em geral. Com um governo que não se mostra sensível com a situação daqueles que devia representar.
No meio do furacão patrocinado pelas autoridades de nosso Estado, nasce, da indignação, o Acampamento Quilombola Floriano Pinto, que, tal qual os Quilombos no meio da floresta, ainda no período escravocrata, clama, grita, batuca, luta pelo direito à existência livre.
Tambores, que mais pareciam canhões, acordaram a Governadora Roseana Sarney e, depois de um intenso disparar contra o palácio governamental, voltaram-se à nossa “Casa da (In) Justiça”, onde, após horas, dias de bombardeio, sequer foram questionados sobre o protesto que faziam.
Restou o cansaço? Não! Alimentados pelo silêncio das autoridades, agora certamente (In) competentes, levantaram as barracas e dirigiram-se ao INCRA, na tentativa de, fazendo alarde, gritando e clamando por Justiça, fossem ouvidos.
Mais um tombou. No entanto, atrás dele, erguem-se um número bem maior. A cor da pele, a instrução, a profissão ou localidade são as características menos importantes. O que importa aqui é dizer aos quatro cantos: chega! Chega de injustiça, chega de matar por terra. Chega de termos Flavianos tombados aos montes, com seus filhos e mães chorando por não terem mais os seus.

Um comentário:

João Carlos disse...

Não importa quantos tombme ou quantos venham a desistir da luta, haverá sempre outros que seguirão os bons rastros deixados pelos líderes. Sempre lutando, seguiremos.